terça-feira, junho 20, 2006

Nem nós

Hoje, precisamente nesta tarde, foi aprovado o relatório final da CPI dos Bingos. O resultado é um texto, digamos, digno do estilo chamado Novo Jornalismo - a saber: fatos reais preenchidos com boa dose de imaginação. Oposição e governo ficaram descontentes, o que é um prodígio. Uma síntese do Brasil, enfim.

Que não se diga, sob pena de antipatias, que esse fato é obra de um governo corrupto, "o mais desonesto da história do país", como já ouvi por aí. A motivação da frase é clara, e ergue-se contra a figura do presidente-operário. Preconceito, traduzindo-se. E uma grande dose de conservadorismo, que é o nome que se dá à prática daqueles que miram sempre e tão somente o próprio umbigo.

A despeito do desânimo e imobilismo deste espaço, faço referência às infindáveis discussões (no bom sentido) entre nós, uotários. Todos sedentos em desbravar os meandros de esquerdas e direitas, pensamentos políticos, econômicos e filosóficos, almejando (porque não?) uma solução para as injustiças do mundo. Cada um tomando um ponto de partida distinto. Cruzaram-se noções liberais (outro apelido do conservadorismo), socialismo, otimismo, pessimismo. Sobrepõem-se a tudo o que já foi dito, por nós e por muitos outros, os fatos. Eles nos atropelam na velocidade móvel da nossa apatia.

O relatório foi aprovado. Hoje. Diversas figuras foram "escanteadas". Mas quem se importa? Reclamemos, pois, mais tarde, a droga de país que recebemos de nossos pais e que, sinceramente, ninguém move uma única palha pra mudar. Nem nós, não é verdade?

Comments:
Eu sabia. Fiz de propósito, meu caro. Apesar de realmente não entender como podem ser diferentes. Vá lá, o pensamento liberal pode até estar morto e isto que vemos por aí é um monstrengo. Mas é uma cria do liberalismo, este sim, não há como negar, galopante por pelo menos menos dois séculos.

Não te mata, não. Voltem aí, tu e a Carol, pra discutirmos, todos, numa aconchegante mesa do Mulligan. Essa e muitas outras vicissitudes da vida.

Abraço saudoso.
 
Manterei o recente costume de comentários extensos, ok? Perdoem-me, é necessário.

Meu caro amigo Eduardo. Pois bem (extraído do link sugerido; grifos meus):

“À primeira vista, pode ser difícil distinguir um conservador de um liberal, principalmente se o tema em discussão for economia. Via de regra os conservadores concordam com os liberais nos temas de livre mercado, combate à intervenção estatal na economia, defesa da propriedade privada, etc. Neste aspecto temos um coro coeso e afinado, que usa dos mesmos argumentos para lutar contra o estatismo. O quadro muda quando entramos no campo dos costumes e da moral.”

Seguindo a mesma linha, encerrando o texto: “Um liberal e um conservador podem pensar rigorosamente da mesma maneira a respeito de moral, mas seguirão caminhos diferentes para defender suas idéias.”

O primeiro trecho inicia o longo texto, o segundo encerra. Parece-me um tanto contraditório, não...?

O referido site usa como principal fonte para o texto a obra de Friedrich Hayek. “Hayek (1899-1992), economista austríaco. Vencedor do Nobel em 1974, dividindo o prêmio com seu opositor ideológico Gunnar Myrdal, sueco. Muitas das idéias de Hayek foram aplicadas no governo Margaret Thatcher (1979-1990).” Fonte: Wikipedia.

Ainda sobre as considerações de Hayek, trecho extremamente interessante e possível causa do suicídio de nosso querido Eduardo, em total discordância ao que eu disse: “Mas o ponto principal do liberalismo é que ele deseja ir em outra direção, não ficar no mesmo lugar. Embora hoje impressão contrária possa ser causada pelo fato de que houve um tempo em que o liberalismo era mais aceito, e alguns dos seus objetivos estavam mais próximos de serem atingidos, ele jamais foi uma doutrina saudosista. Nunca houve um tempo em que os ideais liberais foram completamente realizados, quando o liberalismo não olhava adiante em busca de melhorias adicionais das instituições. O liberalismo não é averso à evolução e a mudança; e onde as mudanças expontâneas são sufocadas pelo controle governamental, ele deseja mudanças significativas na política.”

Ludwig von Mises (1881-1973) foi um dos mais importantes economistas do século XX, normalmente associado à escola austríaca. Apresentou teoria sobre a impossibilidade do cálculo econômico no socialismo. É referido no texto e, aliás, uma figura bastante interessante, ao mesmo tempo em que é contraditória. Também ele...

Então, vejamos. O liberalismo aponta em outra direção, ao contrário do conservadorismo. Por que então as teorias liberais de Hayek foram aplicadas pela Margaret Tatcher, naquilo que recebeu o nome de neoliberalismo, ninho de conservadorismo? Sabemos todos o que faz o neoliberalismo, qual a lógica. E por que estamos discutindo tudo isso se é sabido que no mundo atual é a economia dá as cartas e segura as rédeas do curso da humanidade e, como diz o texto, em economia, liberais e conservadores confundem-se? A economia atropela a moral e os costumes, não está nem aí. É uma manobra diversionista essa. Falamos do que é posto em prática.

Mas tem outra, a melhor. Em seguida vocês todos estarão recebendo notícias do meu suicídio. A causa, extraída do curioso texto indicado pelo Eduardo (grifos importantes, e meus):

“Assim como o Socialismo, o Conservadorismo não tem entre os seus princípios fundamentais aquilo que é a essência do pensamento liberal: a aceitação das diferenças e da pluralidade como elementos fundamentais de uma civilização progressista e justa.” A janela me aguarda...

O texto vale uma leitura. Sério. Não posso me dizer "liberal", mas cada um tira suas conclusões. Era isso.
 
No mais, sabe o que me ensinou, desde sempre, essas nossas conversas (muito legais, na minha opinião)? Que precisamos ajustar o foco. Explico: partimos sempre de pensamentos alheios, pré-concebidos. Por isso o blog de onde extraíste o texto, meu caro Eduardo, é falacioso: Livre Pensamento. Não é. Pode ser um pensamento, mas não é livre. Não é teu.

Não repliquei com argumentos comunistas ou socialistas, apesar de (ainda) acreditar nos últimos, porque não faria desse nosso debate um debate livre, que realmente possa acrescentar algo a ambos. Uso um parâmetro, o da Esquerda, que logicamente considero mais próximo do correto, apenas como base. Acho que deveria ser assim. Reproduzimos raciocínios como máquinas, automaticamente, sem fazer o que somente nós, humanos, letrados, podemos fazer, que é refletir, aparar as arestas e enriquecer uma idéia antes de repassá-la. Simples transmissão de dados já há décadas é feita sem intervenção humana.

E mais. Acho que já disse isso, mas todos nós nos movemos dentro de balões de imaginação. Achar que o liberalismo resolve, ou resolveria, os problemas do mundo de forma parcamente satisfatória parece-me o mesmo que, por exemplo, negar o horror comunista. Se é verdade que “nunca houve um tempo em que os ideais liberais foram completamente realizados”, o mesmo vale para o lado de cá. E, a meu ver, enquanto tivermos meia dúzia de pessoas mandando e desmandando conforme seus próprios interesses, a despeito de linha ideológica, jamais teremos qualquer progresso. A escolha de uma linha ideológica é norteada por conveniência. A isso se presta muito mais o liberaismo, é só ler os livros de História. Tudo isso reforça a idéia de trabalharmos nossos próprios pensamentos, ao invés de simplesmente reproduzir os dos outros.

(Ficarei um mês sem escrever, juro). Abraços a todos, direitistas e esquerdistas e sem-noção.
 
Liberais e comunistas têm esse mesmo horror ao Estado. Por quê? Acho que a existência dele não é ideal, mas acredito que necessária.

Claro que não assim, como o temos hoje. Creio, e espero ver algum dia, na verdadeira democracia participativa. Estado sim, mas com um controle efetivo da sociedade. Acordei meio sonhadora hoje...

"Enquanto tivermos meia dúzia de pessoas mandando e desmandando conforme seus próprios interesses, a despeito de linha ideológica, jamais teremos qualquer progresso." Ahã, é nisso que acredito.

Outro livro: "Mudar o mundo sem tomar o poder", de John
Holloway. Ainda não li.

Beijos. E calma meninos, não façam loucuras, um outro mundo é possível.
 
Ju, uma correção. No Novo Jornalismo, a verdade é permeada por um pouco de imaginação, mas que completam a história, que são quase o fato. No caso do relatório, eu chamaria de invencionices.

Beijo
 
teste
teste


...aguardem. Respostas em breve
 
Pois é, meus grifos foram todos pro espaço...
 
Conta, Eduardo, como se faz o grifos?
 
faz assim:

antes da palavra e depois
 
hahaha.. funcionou, mas nao expliquei dai.
faz sinal de menor b sinal de maior e escreve o que tu quer. no final poe o sinal de menor, barra, b e sinal de maior.
 
aquilo se chama sinal de menor?
mm...
bem.. eh aquilo que parece uma setinha. pronto.
e prometo ler com mais tempo os comentarios sobre depressao, melancolia e antidepressivos.
 
A explicação está embaixo da frase: faça um comentário.

Não vi, que tonta...

Mesmo assim, valeu Carol.
 
Me explico. Escrevi meus super-comentários no Word. Lá fiz inúmeros grifos, alguns sofisticados até. Daí, bem tonto, colei e postei.

Claro que não foi nenhum grifo.
 
Já que ninguém fala, eu falo. Até tentei evitar, mas a culpa é de vocês, que não se pronunciaram sobre outra coisa qualquer.

Só alguns fatos:

"A ordem econômica mundial mata 100 mil pessoas de fome por dia, apesar de o mundo ter hoje a capacidade de alimentar 12 bilhões de seres humanos, o dobro de sua população atual, denunciou, no dia 21 de junho deste ano, o relator da ONU para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler. "

"Os gastos dos EUA no Iraque e no Afeganistão ajudaram a aumentar as despesas militares no mundo em 3,5 por cento, alcançando 1,12 trilhão de dólares em 2005, segundo levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional de Estocolmo. De acordo com o instituto sueco, os EUA são responsáveis por 48% dos gastos mundiais em armamentos, seguidos à distância por Inglaterra, França, Japão e China, que investem de 4 a 5% cada um."

Esse é o nosso mundo.
 
O atual governo não é o mais desonesto da história do país.

Mas o "preconceito" contra o presidente operário é um belo escudo.

Belíssimo.

Aliás, as pessoas mudam. O Lula simboliza muita coisa, e com justiça, mas faz algum tempo que não é mais operário.
 
Acredito que o Lula, - bem como o meu irmão disse - simboliza de fato muita coisa. Mas muito desses simbolismos não passam de meras projeções. O presidente-operário, o presidente-sindicalista, o presidente-humilde, o presidente-pobre, o presidente que é gente como a gente.

Mas e daí? Os anos 80 e os resquícios de redemocratização já se foram faz tempo. Já não estamos mais na década de 90 e o nosso querido presidente já não é mais um operário. Agora o operário virou presidente.E essa frase soaria mais bonita ainda, se se tratasse de algum país socialista da década de 60.

E outra: E outra que história é essa de "governo mais corrupto da história"?
Onde está o corruptômetro que eu ainda nao conheço?

Aposto no Lula e na sua integridade. Trouxa? Idiota? Pode ser, mas pago pra ver o final dessa história. Punição aos que precisam ser punidos. Escantear os que precisam ser escanteados.

Prefiro apostar no Lula do que ter que ver o país não mão desses PFL-maluquetes da vida aí.
 
Bah, mas é PALHAÇADA o gurizinho!!

Abafou!!

Já era!!
 
hehe..

o Daniel é o rascunho...

Grande Fernandinho
 
Por favor, leiam isso:

http://www.gardenal.org/ressacamoral/

Eles estao cada ve melhores
 
quero texto novo!
 
Eu vi. Era sim. Bonita cidade, agradável, de uma brisa leve e permanente e casas espassadas. Uma pena. E olha que é verão, hein!

Na verdade, são duas as "minhas" cidades siberianas. Irkutsk é uma delas e a outra é a metrópole industrial Novosibirsk - que não tem o ar interiorano de Irkutsk, é certo.

Vou precisar seriamente de huskies quando for pra lá.
 
Ô Jardel, tu acha que seu eu for lá no Kremlin e tirar uma foto com o Lênin, os guardinha me prendem?
 
Naaaa, os russos são tri gente fina. Vai por mim.
 
ITAAAAAAAAAAAALIAAAAA!
 
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