sexta-feira, dezembro 23, 2005

Feliz Natal!

Interessante: Machado de Assis iniciou sua vida dizendo que não teria filhos para não contribuir diretamente com a continuidade do legado humano sobre a Terra. Afirmação tão talentosa quanto egoística. Mas aquele gênio menosprezou o fato de que a vida dá voltas, e o “velho Bruxo” provou delas até tontear - rodopiou a seu bel prazer como um peão descontrolado. Depois de perder sua amada Carolina ( e escrever para ela um dos mais belos sonetos que já li), escreveu seu Memorial de Aires, onde no final, trata de uma reconciliação, que não deixa de ser a sua própria, consigo e com o mundo, no que tenha ela sido possível.

O velho Machado, quando vivo, foi epiléptico, taciturno, vendeu balas quando criança. E era um sábio que primava pela discrição. Morto, adentrou na consciência coletiva da literatura brasileira como sua maior expressão. E deu causa à melhor frase que Pedro Bial fez em sua vida, a de que “um país que produziu Machado de Assis tem que dar certo”.

Eu digo isso, acuso essa mudança de temperamento porque estou adepto da idéia de que os seres humanos não estão fadados ao desuso, ao descaso do universo, como se fossem jogados em um álbum velho e empoeirado de amostras vencidas e indesejadas da galáxia. Não. Por mais que a história da humanidade seja muitas vezes a de protagonistas excusos e de grandes opressões, catalogáveis somente naquela linda biblioteca de Borges, a infinita, que descia e revoava entre andares e mais andares infinitos, acredito que evoluímos.

Da penumbra da barbárie, o homem elevou-se e trouxe os seus a novos entendimentos. À dinamite, contrapõe-se a penicilina. Para um Hitler, um Freud. A balança está pesando para o lado que não devia? Sim. Mas o mundo dá voltas, e isso não é uma futilidade, nem uma fórmula pronta. Futilidade é a limitação humana de querer tudo, e agora, seja para o bem e para o mal. O mundo dá voltas, ele dá.

Consultem os mestres da história: se a Terra tivesse até hoje feito menos do que isso, se fosse estanque como uma rocha lunar, já teria sido o profundo e incorrigível Apocalipse da nossa raça. Jesus, se soubesse o quão inglória era sua missão terrena, teria apressado a crucificação: poder não lhe faltaria. Mas seu intento era provar da fé aos outros e pelos outros, e depois morrer dela e por ela, porque demonstrá-la não era o mesmo que expô-la didaticamente – a forma é necessária, mas o conteúdo é tudo, e a culpa que achamos ser uma técnica de coação barata é na verdade nossa, ou dela não nos preocuparíamos. Fato, inquestionável fato; normalmente, a bonança vem depois da tempestade. Nem com o filho do Homem foi diferente.

Por isso, eu exorto os senhores (e as senhoras) a acreditarem comigo nos beneméritos da humanidade, em detrimento dos monstros. Convoco-lhes a verem aquele lindo e definitivo elo esquecido entre tantos de nós, o de nossa coabitação necessária, intangenciável nesse minúsculo planeta, e do que podemos fazer juntos nesta “Residência na Terra”, como soube dizer Neruda. A história do mundo também é a de uma desmesurada busca de soluções, e muitas delas chegaram. O resto ainda está por vir. Por que não?

E volto ao primeiro Machado, o pessimista, o iniciante, quiçá o incompleto: negar, negar e negar só nos leva a edificar uma hospedaria barata. Construamos o alto. Acreditemos no homem comum.

Feliz natal!

Comments:
Obrigada, Dani! eu sabia que ia ser tu o mensageiro natalino desse blog!

Alguém descobriu o que aquele barman maluco colocou na minha caipira? Sonífero??? hahaha.. não riam.

Beijos!
 
Eu passei o dia caindo de sono pelas tabelas... E só tomei a de sempre, Coca Light!

Hehehehe!!

Saludos.
 
Eu continuo achando que o pessimismo é um dever. Otimismo é para desinformados. Ou para aqueles à beira da morte.

De qualquer forma, acho também que nós não estamos entre os mais desafortunados da vida. De forma que posso "prever" um futuro feliz para todos nós.

Um grande Natal a vocês. E que, ao menos até esses dois desertores se irem, continuemos a promover esses encontros tão bacanas. Depois, serei o único a ter o privilégio de provar das peripécias gastronômicas de nosso Dani "Le Chef" Diez.

Abraços.
 
Nossa. Agora sim eu fiquei preocupada...

Adoro vocês.
 
jogo histórico ontem!

beijos!!! boa segunda! que sono!
 
Tava bem legal!

Obrigado por terem vindo!
 
Postar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?