terça-feira, novembro 15, 2005

Sinceramente: falar em demasia não é uma coisa que combine com as mulheres. Aliás, que me perdoem os surdo-mudos, mas por si só o ato de falar tem seu lado fútil: pode até ser uma necessidade vital, mas até por isso é enfadonho e é absolutamente corriqueiro. A dicção humana cansa e só se salva por alguns discursos célebres aqui e por algumas músicas e peças bem interpretadas acolá. No mais, para se comunicar com os outros, a visão é mais sugestiva, a literatura é mais emocionante, e o beijo é seguramente muito mais prazeroso.

Acho que só os homens - esses seres infelizes e comuns - é que deviam fazer uso da voz em maior quantidade e decibéis de extensão, discursando por aí suas verdades inúteis e tolas. Melhor assim: eles se sentiriam mais felizes e tolamente ocupados, como crianças no jardim-de-infância, e dessa maneira aliviariam a fadiga, poupariam o trabalho e não gastariam inutilmente a beleza de suas companheiras, sem as quais dificilmente sobreviveriam.

Já às mulheres cairia muito melhor a obediência e a sedução inquestionáveis que emanam de sua calculada reserva sentimental. No sexo feminino, eu acho, o silêncio bem manejado é de uma contundência fantástica; já o uso da voz é o lugar comum que muitas vezes não satisfaz plenamente, a não ser que se dê ao pé do ouvido e na hora certa, ou com o apoio decisivo do olhar; por último o grito, que no gênero feminino é a exasperação possível da voz e da vontade, não passa, ao fim e a o cabo, de uma desaconselhável negação do melhor comportamento que pode decorrer de uma mulher, além de ser, no homem, a última barreira da já previsível e decantada estupidez masculina.

Uma mulher inteligente, se quer fazer ouvir sua opinião com a máxima vontade de convencer, nunca grita: baixa os olhos, arqueia os braços, joga com as sobrancelhas, mas poupa a garganta. Se sua indiferença mutila o homem, seu silencia o prostra moralmente, e o gênero masculino, regra geral, não conhece essas sutilezas e no mais das vezes sequer mereceria aprendê-las. Pior é que isso que digo sobre as mulheres e seus silêncios já se sabe há muitas eras, eu já percebi, mas mesmo assim anda tão difícil ver o olhar ganhar da gritaria que eu já não sei mais a quantas andamos. Acho que a Tati Quebra-Barraco está ganhando da Capitu, e de goleada.

E bem, sei lá: eu descrevi essa tese só para dizer que acredito nela. E também para dizer que as mulheres, se fizessem o favor de se portarem todas assim, fariam ao mundo um tremendo favor: encheriam o planeta de maior beleza e sofisticação, e deixariam só para os homens essa virtude inútil de falar e falar e falar até cansar, técnica antiga, desbotada e irritantemente usual, que não pode resolver qualquer coisa mais importante ou significativa do que, sei lá, montar um guarda-roupas.

Todos nós estamos saturados de tanta prolixidade em volta. Eu só quero olhares, poucas palavras necessárias, carinhosamente amenas, e sorrisos. Essa é a parte que eu quero que me caiba desse latifúndio, como quase diria um poema lá do nordeste.

Comments:
Não posso deixar de expressar meu grande carinho pela fala, pelas palavras, pelos ditos e não-ditos... É com cada uma dessas pecinhas que fogem pela boca que "Freud explica"... ;)

Concordo contigo que a questão está no O QUE falar, QUANDO falar e em que VOLUME dizer as coisas.

Só acrescento que homens também ganham muito quando calam. E isso também seria um grande favor ao mundo.

E acho que a admiração que se pode ter por uma mulher ou por aquilo que ela teria para dizer quando não diz não está apenas no seu silêncio. Mas na sua essência talvez.. Não vejo mistério ou sofisticação no olhar calado de uma mulher que se concentra no plano da próxima compra de uma bolsa enquanto alguém fala de pequenas crianças nicaraguenses e seus insólitos destinos.

beijos!!
 
Concordo contigo, Carol, em tudo. A fala não é esse horror todo não. Eu devia estar com o humor meio azedo ontem quando escrevi isso. Mas o que eu quis dizer é que me encanta o olhar feminino, a postura feminina. É isso.

Abraços e beijos.
 
As palavras são uma dádiva, ouvir belas palavras também. O problema está na falta de quem as diga da forma como merecem. Acho que esse é o problema que descreveste. Penso também que tanto os homens quanto as mulheres são capazes - e dignos - de belas palavras e sublimes silêncios. E, dessa forma, fico com a coluna do meio nessa discussão.

Grande abraço a todos.
 
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(um silenciozinho em homenagem ao Eduardo)

Eduardo, eu penso coisas importantes 100% do meu tempo! Como tu ousa dizer uma coisa dessas??

hahahaha...

Beijocas barulhentas pra todos!!!

(hoje eu tô pra discordar ;)
 
É que eu quis dizer que a mulher tem esse dom que o homem não usa: o de revelar a sua alma pelos olhos. Eu acho que o homem, em geral, até tem esse dom, mas não o exercita.

Não é que eu queira apenas silêncio. Mas que é bom um silenciozinho, ah, isso é... Hehehe!

Eu até acho que a nobreza de uma pessoa não deve ser medida em o quanto ela gasta de tempo pensando em assuntos sérios, seja lá quais eles forem. Cada vez mais eu tenho acreditado que a única grandeza que a gente tem no mundo são os que nos cercam. O resto é literalmente o resto mesmo.

E eu me surpreendo comigo memso querendo tanto silêncio; logo eu! Hehehe!!
 
Ninguém mais escreve?

Ninguém mais comenta?

Ninguém? Ninguém? Ninguém?

Hehehehe!!!
 
não sei ou outros, mas eu tô fazendo um silêncio... (brincadeira...)

bah.. mas eu tb nunca mais escrevi por aqui, a não ser meus textos-comentários a respeito dos textos de vocês..

vou dar um jeito nisso.. publicarei as 3,5 primeiras páginas na minha monografia!!! sim!!! que ótima idéia!
sim.. só escrevi 3,5 páginas até agora... (não riam!)

Beijocas!!!
 
Escrevi, escreveria...

Escreverei.
 
Apartir de hoje, começo a ler os textos na integra de todos os sócios desse flog xD

Meu primeiro comentário é referente ao texto que é claro, nem preciso mencionar o quão magnífico soou, aliás não pudera ser poca coisa, tendo meu irmão como autor =)

A criação da figura do homem, está intimamente ligada aos anceios e desejos a qual ele poderá vir a ter mais tarde. Não é a toa que ganhamos no nosso "layout": DOIS olhos, DUAS orelhas e apenas UMA boca. Falemos menos, escutamos e enxergamos mais. xD
 
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