terça-feira, outubro 18, 2005
Quer texto, Jardel? Então toma!
Cometi isso há algum tempo atrás. Hehehehe...
"Semana passada, presenciei a morte de um passarinho. Faleceu eletrocutado no centro de Porto Alegre. Um lance de azar, infelizmente. O pequeno animal, voando poucos metros acima de mim, perdeu as medidas, voou errado e acabou enredando-se em dois fios ao mesmo tempo. O choque trouxe um barulho breve e agudo, e a bendita ave, que a milésimos antes parecia cheia de uma vivacidade aérea, atrapalhada e até divertida aos meus olhos, caiu fulminada no chão, seca como uma caixa opaca e sem aquela mobilidade contagiante, tão propícia aos animais alados. O burburinho urbano foi breve: o defunto por pouco não caiu na cabeça de uma senhora que passava. Não houve feridos, tampouco impressionados. A urbe estancou por não mais que dois segundos, e voltou a fluir normalmente após isso, como se quisesse apenas saber do que se tratava. Como alguém que perde a atenção pelo cenário após achar o utensílio que procurava".
[...]
No fim das contas, o passarinho ficou jogado ao meio fio da calçada, sugerindo uma eternidade de mansidão e sossego no corpo após o choque e a descarga. Todos continuaram seu trajeto em direção ao instável da vida. A única coisa definitiva naquela rua, naquele momento, era a transcedental afirmação do passarinho. Todos corriam em busca de algo, e na minha mente, só ele tinha achado uma situação definitiva. É o valor que há em parar quando todos correm: o inusitado sempre prende a atenção, mas havia mais do que isso no ar. Pelo menos foi a sensação que tive naquela hora.
Conclusão: ou estou ficando louco, ou mórbido. Or both. Ou não, sei lá...
"Semana passada, presenciei a morte de um passarinho. Faleceu eletrocutado no centro de Porto Alegre. Um lance de azar, infelizmente. O pequeno animal, voando poucos metros acima de mim, perdeu as medidas, voou errado e acabou enredando-se em dois fios ao mesmo tempo. O choque trouxe um barulho breve e agudo, e a bendita ave, que a milésimos antes parecia cheia de uma vivacidade aérea, atrapalhada e até divertida aos meus olhos, caiu fulminada no chão, seca como uma caixa opaca e sem aquela mobilidade contagiante, tão propícia aos animais alados. O burburinho urbano foi breve: o defunto por pouco não caiu na cabeça de uma senhora que passava. Não houve feridos, tampouco impressionados. A urbe estancou por não mais que dois segundos, e voltou a fluir normalmente após isso, como se quisesse apenas saber do que se tratava. Como alguém que perde a atenção pelo cenário após achar o utensílio que procurava".
[...]
No fim das contas, o passarinho ficou jogado ao meio fio da calçada, sugerindo uma eternidade de mansidão e sossego no corpo após o choque e a descarga. Todos continuaram seu trajeto em direção ao instável da vida. A única coisa definitiva naquela rua, naquele momento, era a transcedental afirmação do passarinho. Todos corriam em busca de algo, e na minha mente, só ele tinha achado uma situação definitiva. É o valor que há em parar quando todos correm: o inusitado sempre prende a atenção, mas havia mais do que isso no ar. Pelo menos foi a sensação que tive naquela hora.
Conclusão: ou estou ficando louco, ou mórbido. Or both. Ou não, sei lá...
Comments:
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Obrigado, minha sede de literatura - boa literatura, diga-se - está saciada. Por ora.
Este belo texto "soa" Ostermann. Sei que pra ti é um elogio... Pra mim também.
Grandes abraços.
Este belo texto "soa" Ostermann. Sei que pra ti é um elogio... Pra mim também.
Grandes abraços.
Gostei muito, Danilito.
Tenho essa sensação de vez em quando... essa de necessidade de parar enquanto todos correm. É uma sensação de solidão. Mas é também um momento de imersão na vida, eu acho. Como quando se come laranja com as mãos e não com a faca.
ai.. já fui longe demais.. nem eu entendi essa. hehehe..
Mas vou deixar aí.
E eu acho que tu tá ficando louco e mórbido ou não e sei lá.
Beijo!
Tenho essa sensação de vez em quando... essa de necessidade de parar enquanto todos correm. É uma sensação de solidão. Mas é também um momento de imersão na vida, eu acho. Como quando se come laranja com as mãos e não com a faca.
ai.. já fui longe demais.. nem eu entendi essa. hehehe..
Mas vou deixar aí.
E eu acho que tu tá ficando louco e mórbido ou não e sei lá.
Beijo!
Olha que tri!
Publicaram um texto que eu mandei no www.pessoasdoseculopassado.com.br
Foi pra capa.. heheheh.. to me achando..
Beijos!
Publicaram um texto que eu mandei no www.pessoasdoseculopassado.com.br
Foi pra capa.. heheheh.. to me achando..
Beijos!
por algum motivo, os autores deste blog não teceram qualquer comentário sobre o referendo de domingo. Eu sei os meus motivos: acho que tudo não passa de um piada, responder "sim ou não" não vai mudar nada na segurança do nosso país. Acho que por isso voto "não", pois temos mais coisas pra pensar e resolver que se deve ser proibido o comércio de armas.
Gostei do texto do Fabrício do dia 16. Vão lá dar uma olhada: www.floatinspace.blogger.com.br
Beijos!
Gostei do texto do Fabrício do dia 16. Vão lá dar uma olhada: www.floatinspace.blogger.com.br
Beijos!
É lindo o texto mesmo. Merece os elogios todos. Com certeza.
Sobre o desarmamento, tem uma frase que eu acho interessante, do Churchill se não me engano: "A democracia não é grande coisa, mas não tem nada melhor por aí". Pura verdade.
Acho no mínimo curioso que pessoas de classe média, que na sua imensa maioria só conhecem o cotidiano do que seja um dia-a-dia violento pelos jornais e pelas letras do Racionais MC's, se julguem no direito de dizer que o povo, os "não politizados" - que em alguns lugares acordam e dormem sob o jugo de um monte de gente armada - não possa ter, baseado no que vive no seu cotidiano, o direito de dizer o que acha de uma arma na mão de quem quer que seja.
Influenciável todos somos. Conhecer as coisas e estudar é necessário mesmo, mas daí a achar que tudo se resume a "politização", seja lá o que isso for, acho demais. E a experiência de vida?
Tem um discurso do Mário Covas quando ele era líder do MDB na Cãmara, feito um pouco antes do AI-5, que é lindo, porque demonstra essa coisa da fé no povo que todo homem sensível deve carregar dentro de si, e que não é hipocrisia, como alguns acham. Se soubesse de cor, postava ele aqui, mas não sei.
Como disse a Soninha na Folha de São Paulo essa semana, "democracia dá trabalho".
Também sou adepto da tese de que democracia no meio da alienação não é tão democracia. Mas não dá para "fechar a sociedade para balanço" enquanto a conscientização não chega.
Aliás, se cultura e conhecimento fossem valores absolutos, os ingleses não estariam do lado do Bush, apoiano o Blair. E olha que se não estão mais agora, ainda ontem estavam. Infelizmente, nada como uns atentados a bomba...
Sobre o desarmamento, tem uma frase que eu acho interessante, do Churchill se não me engano: "A democracia não é grande coisa, mas não tem nada melhor por aí". Pura verdade.
Acho no mínimo curioso que pessoas de classe média, que na sua imensa maioria só conhecem o cotidiano do que seja um dia-a-dia violento pelos jornais e pelas letras do Racionais MC's, se julguem no direito de dizer que o povo, os "não politizados" - que em alguns lugares acordam e dormem sob o jugo de um monte de gente armada - não possa ter, baseado no que vive no seu cotidiano, o direito de dizer o que acha de uma arma na mão de quem quer que seja.
Influenciável todos somos. Conhecer as coisas e estudar é necessário mesmo, mas daí a achar que tudo se resume a "politização", seja lá o que isso for, acho demais. E a experiência de vida?
Tem um discurso do Mário Covas quando ele era líder do MDB na Cãmara, feito um pouco antes do AI-5, que é lindo, porque demonstra essa coisa da fé no povo que todo homem sensível deve carregar dentro de si, e que não é hipocrisia, como alguns acham. Se soubesse de cor, postava ele aqui, mas não sei.
Como disse a Soninha na Folha de São Paulo essa semana, "democracia dá trabalho".
Também sou adepto da tese de que democracia no meio da alienação não é tão democracia. Mas não dá para "fechar a sociedade para balanço" enquanto a conscientização não chega.
Aliás, se cultura e conhecimento fossem valores absolutos, os ingleses não estariam do lado do Bush, apoiano o Blair. E olha que se não estão mais agora, ainda ontem estavam. Infelizmente, nada como uns atentados a bomba...
Dani,
parabéns pelo comentário. Concordo plenamente...
Sobre o referendo:
"A decisão desse domingo tem tudo para não mudar em nada a segurança das ruas brasileiras. Mesmo porque, votou-se para manter as coisas como estão, por piores que estejam, em vez de fazer de conta que o “sim” era capaz de mudá-las."
À proposito, votei no Sim.
Grande abraço.
parabéns pelo comentário. Concordo plenamente...
Sobre o referendo:
"A decisão desse domingo tem tudo para não mudar em nada a segurança das ruas brasileiras. Mesmo porque, votou-se para manter as coisas como estão, por piores que estejam, em vez de fazer de conta que o “sim” era capaz de mudá-las."
À proposito, votei no Sim.
Grande abraço.
Obrigado, Veri.
Achei o trecho do discurso do Mário Covas ao qual tinha me referido. Será inclusive a epígrafe do meu Trabalho de Conclusão.
“Creio na Justiça, cujo sentimento, na excelsa lição de Afonso Arinos, é na noção de limitação de Poder. Limitação bitolada por dois extremos: sua contenção para que não extrapole na prepotência, e seu plano exercício para que não se despenhe na omissão. Creio no povo, anônimo e coletivo, com todos os seus contrastes, desde a febre criadora à mansidão paciente. Creio ser desse amálgama, dessa fusão de lamas e emoções, que emana não apenas o Poder, mas a própria sabedoria”.
É isso.
Achei o trecho do discurso do Mário Covas ao qual tinha me referido. Será inclusive a epígrafe do meu Trabalho de Conclusão.
“Creio na Justiça, cujo sentimento, na excelsa lição de Afonso Arinos, é na noção de limitação de Poder. Limitação bitolada por dois extremos: sua contenção para que não extrapole na prepotência, e seu plano exercício para que não se despenhe na omissão. Creio no povo, anônimo e coletivo, com todos os seus contrastes, desde a febre criadora à mansidão paciente. Creio ser desse amálgama, dessa fusão de lamas e emoções, que emana não apenas o Poder, mas a própria sabedoria”.
É isso.
E, na esteira de nossas discussões uotárias de domingo à noite, Mino Carta lembra constantemente os fundamentos do Jornalismo, entre os quais está a "vigilância do Poder". Ou seja, Mário Covas e Mino Carta enxergam exatamente da mesma forma que eu: o poder deve ser vigiado e restringido, controlado de excessos. O poder, seja ele político, financeiro ou moral.
Abraços.
Abraços.
Só uma sugestão fora de contexto: não usem itálico para escrever textos grandes. É muito ruim de ler.
abraço
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abraço
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