terça-feira, outubro 04, 2005
Para onde vão?
Foi a paixão pela História, mais especificamente pelo período medieval, que me fez retornar às salas de aula universitárias. Um esforço burocrático, matrícula regularizada e lá estava eu rumando ao distante Campus do Vale da UFRGS, verdadeiro "jurassic park" do ensino superior em plena capital gaúcha. Mesmo atravessando cinco anos de jornalismo, raras vezes estive no Vale e isso originou um olhar atento e sempre curioso, sem o vício da rotina, sobre o local e suas pessoas.
E o que vi? Vejo todas as quartas-feiras pela manhã, em meu movimento rumo às discussões sobre visigodos, bizantinos, castelos e feudos, centenas - talvez milhares - de corpos jovens e cabeças pensantes (até prova em contrário). Deslocam-se por diferentes distâncias, todas relativamente grandes, a fim de enriquecer o espírito e o intelecto em cátedras na maioria interessantes, lideradas por mestres que, alguns anos antes, ouviam as palavras que hoje repetem a seus discípulos.
Todos têm de vencer o cansaço, os ônibus lotados, o calor e o frio, a falta de assimilação. Digam o que disserem, o estudo é profissão e alguns, dependendo da vontade do aluno, exigem mais do que muitos postos de trabalho de nossa "economia estável". Para cursar o ensino superior neste país brincalhão paga-se, e muito: seja a própria faculdade privada - que se reproduz aos borbotões na esteira de uma moral nacional deficiente e da noção perniciosa de que tudo, absolutamente tudo, até o ensino, é mercado -, seja no custo intrínseco ao ensino dito "gratuito", que é muito menos do que nossos impostos pagam. Os universitários, assim como tudo nesta coisa louquíssima de nome Brasil e sobrenome Modernidade, refletem a confusão: são poucos e são muitos.
A questão é que, por mais manca que seja nossa educação superior, na sua oferta ou na sua execução, temos muitos profissionais. Alguns demais, outros de menos. Mas os temos. E então, pergunto eu aos meus botões, para onde vão? Porque se temos um país ainda ridiculamente zonzo é porque não temos quem o ajude, parece-me. Mas eu os vejo todas as quartas pela manhã, banhados no sol matutino da primavera porto-alegrense...
Conheço engenheiros que rejuntam muros na Austrália, economistas que calculam in-loco o caixa de lanchonetes em Nova York, psicólogas-faxineiras de banheiros na Inglaterra e jornalistas vendedores de doces nas parcas redações brasileiras... E aquela gente que se apressa em pegar o ônibus, junta compêndios de fotocópias e perde madrugadas lendo textos imensos ou fórmulas complicadas? Fazem o quê, depois, na vida real? Trabalham para quem? Trabalham pelo quê?
E o que vi? Vejo todas as quartas-feiras pela manhã, em meu movimento rumo às discussões sobre visigodos, bizantinos, castelos e feudos, centenas - talvez milhares - de corpos jovens e cabeças pensantes (até prova em contrário). Deslocam-se por diferentes distâncias, todas relativamente grandes, a fim de enriquecer o espírito e o intelecto em cátedras na maioria interessantes, lideradas por mestres que, alguns anos antes, ouviam as palavras que hoje repetem a seus discípulos.
Todos têm de vencer o cansaço, os ônibus lotados, o calor e o frio, a falta de assimilação. Digam o que disserem, o estudo é profissão e alguns, dependendo da vontade do aluno, exigem mais do que muitos postos de trabalho de nossa "economia estável". Para cursar o ensino superior neste país brincalhão paga-se, e muito: seja a própria faculdade privada - que se reproduz aos borbotões na esteira de uma moral nacional deficiente e da noção perniciosa de que tudo, absolutamente tudo, até o ensino, é mercado -, seja no custo intrínseco ao ensino dito "gratuito", que é muito menos do que nossos impostos pagam. Os universitários, assim como tudo nesta coisa louquíssima de nome Brasil e sobrenome Modernidade, refletem a confusão: são poucos e são muitos.
A questão é que, por mais manca que seja nossa educação superior, na sua oferta ou na sua execução, temos muitos profissionais. Alguns demais, outros de menos. Mas os temos. E então, pergunto eu aos meus botões, para onde vão? Porque se temos um país ainda ridiculamente zonzo é porque não temos quem o ajude, parece-me. Mas eu os vejo todas as quartas pela manhã, banhados no sol matutino da primavera porto-alegrense...
Conheço engenheiros que rejuntam muros na Austrália, economistas que calculam in-loco o caixa de lanchonetes em Nova York, psicólogas-faxineiras de banheiros na Inglaterra e jornalistas vendedores de doces nas parcas redações brasileiras... E aquela gente que se apressa em pegar o ônibus, junta compêndios de fotocópias e perde madrugadas lendo textos imensos ou fórmulas complicadas? Fazem o quê, depois, na vida real? Trabalham para quem? Trabalham pelo quê?
Comments:
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Me identifiquei, me identifiquei e me identifiquei. ouquei.
Pois é...
Sempre pensei em pagar de alguma forma o ensino superior "gratuito e de qualidade" que recebo. Venho pagando nos estágios que fiz e faço, Polícia civil e clínica de atendimento psicológico da ufrgs, por exemplo. Trabalho bastante e não tenho remuneração, nunca tive em nenhum dos estágios. Ta aí uma coisa para se discutir ou não.
Quero 'sobre'viver da profissão que escolhi, quero ter consultório e tudo mais. Tenho vontade de trabalhar com a saúde pública e fazer o melhor com isso. E no Brasil.
Porém, no próximo ano, assim que me formar psicóloga, quero ir sim lavar pratos na Inglaterra.
E vou porque sei que o dinheiro que precisaria para fazer uma viagem dessas, e conhecer os lugares que quero conhecer, eu não conseguiria nem em talvez 15 anos de trabalho com psicologia aqui.
É isso.
Beijocas!!!
Pois é...
Sempre pensei em pagar de alguma forma o ensino superior "gratuito e de qualidade" que recebo. Venho pagando nos estágios que fiz e faço, Polícia civil e clínica de atendimento psicológico da ufrgs, por exemplo. Trabalho bastante e não tenho remuneração, nunca tive em nenhum dos estágios. Ta aí uma coisa para se discutir ou não.
Quero 'sobre'viver da profissão que escolhi, quero ter consultório e tudo mais. Tenho vontade de trabalhar com a saúde pública e fazer o melhor com isso. E no Brasil.
Porém, no próximo ano, assim que me formar psicóloga, quero ir sim lavar pratos na Inglaterra.
E vou porque sei que o dinheiro que precisaria para fazer uma viagem dessas, e conhecer os lugares que quero conhecer, eu não conseguiria nem em talvez 15 anos de trabalho com psicologia aqui.
É isso.
Beijocas!!!
Eu não desisti do Brasil não.
Ah.. e se lembrar, Eduardo, me traz um coala? vá que eu começo a acreditar...
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Ah.. e se lembrar, Eduardo, me traz um coala? vá que eu começo a acreditar...
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